A sua casa conta a sua história ou é um showroom?
- Roberta Soncini
- 22 de abr.
- 3 min de leitura
Posso dizer que finalmente encontrei uma nomenclatura que resume o meu sentimento quando vejo residências sem personalidade. E quando falo “sem personalidade”, não estou falando de bom gosto — esse conceito, aliás, merece um debate à parte (e longo!).
Nós somos o compilado de tudo aquilo o que vivemos em nossas vidas. Nossa bagagem forma a nossa identidade e os nossos olhos são treinados à partir de todas as nossas vivências compiladas em uma caixinha em nossa cabeça, unidas às referências que temos em nossa vida.
Digo isso para que, nessa discussão aqui, o "bom gosto" não seja nem perto algo a ser tratado, já que a discussão do mesmo precisaria ser destrinchado em tantas vertentes que levariam horas de discussão. O que quero propor é uma reflexão sobre o caminho que os projetos residenciais têm seguido — e o que, de fato, faz de uma casa um lar.
Quando busco na minha memória afetiva, volto para a primeira casa dos meus avós. Eu tinha oito anos quando eles a venderam, mas ainda lembro da fachada com revestimento envelhecido, cheio de relevos. Eu adorava passar a mão ali. Sinto a textura até hoje. Era frio ao toque, talvez não o mais bonito, mas era deles. Construída com as próprias mãos nos anos 70.
Mas a casa mesmo que eu cresci tinha vários detalhes em madeira. As tábuas corridas de madeira no piso faziam a trilha sonora no dia a dia, tantos nos dias bons quanto nos dias tristes já que qualquer pisada não saía despercebida. As janelas e portas de madeira, ainda firmes lá, são, até hoje, referência de aconchego e arquitetura pra mim.
(Sério, como alguém que cresceu assim vai projetar esquadrias com vidro verde? Não dá.)
Fico pensando, quero que os meus filhos cresçam tendo como referência da infância uma casa alegre, que passe aconchego, e não teto riscado com feixes de luz como se o um personagem de star wars tivesse esquecido a sua espada por lá (sabre de luz, pesquisei aqui). Opa, acho super que dá pra usar luminárias lineares na decoração, na iluminação como item projetual e estético, entretanto, com parcimônia. Mas o combo, casa inteira branca, gelada, com tudo refletido, mais feixes de luz... Não me passa a imagem de um lar e sim de um showroom que o foco é a venda de móveis e itens de decoração.
A pergunta que fica pra você é: aonde você está buscando as suas referências? às vezes o seu medo de errar está te permitindo errar mais do que deveria pois não está te deixando agir conforme o as suas emoções e o seu gosto pessoal. Não tenha medo! Mas fuja do sabre de luz!
Então vou te dar dicas sobre como você pode começar a fazer essa diferenciação.
Olhe para ambas as fotos abaixo e se pergunte:
O que cada uma te faz sentir?
Sem pensar no que é "certo" ou "bonito". Só no que você sente.


Agora pergunte:
Que sentimento eu quero ter quando estiver na minha casa?
Se a imagem te evoca isso — esse sentimento desejado — então você já encontrou uma referência. E não importa se ela não tem todos os elementos que você quer. Importa que ela te toca, que ela conversa com você. A partir daí, você começa a construir o seu repertório visual com muito mais consciência.
Ah, ainda não é nenhuma dessas imagens? Vai para outra. E para outra. E para outra.
Continua.
A sua casa vale cada investimento seu de dinheiro e de TEMPO (e vai por mim, é o que você mais vai gastar).
Nosso papel é ajudar você a transformar isso em realidade. Mas antes, você precisa nos contar qual é o cenário do seu enredo.
Vamos juntas desenhar o seu lar?

Comentários